Choso Misato -Avenida

Bairro:

Campus Universitario

Data:

05/09/2000

Valor:

Documento: 4.437 lei

Dados Técnicos:

Nome Atual:
Choso Misato -Avenida
Bairro
Campus Universitario
Documento
4.437 lei
Data: 05/09/2000
Iniciativa: Haid Chiaradia

Homenageado(a):

Nome:
Choso Misato
Data de Nascimento: 1905
Local de Nascimento: Ilha de Okinawa
Data de Falecimento: 26/08/1998
local de Falecimento: Ourinhos
Profissão: Lavrador e Comerciante

Histórico:

Originário da ilha de Okinawa, onde nasceu em 1905, Choso Misato migrou criança em companhia de um irmão: um menino na saga de milhares de nipônicos em busca de um Eldorado improvável, drama descrito pela cineasta nissei Tisuka Yamazaki no filme Gaijin (Estrangeiro). Misato, no entanto, sobreviveu e fez a sua vida na lavoura e no comércio. Casou-se e teve dez filhos: um dos mais novos é o engenheiro Toshio Misato, eleito vice-prefeito municipal em 1988 e Prefeito, em 1996 na cidade de Ourinhos.

Aos 86 anos, Choso Misato prestou um depoimento como um dos mais antigos membros da comunidade japonesa para Jefferson Del Rios, autor do livro Ourinhos – Memórias de uma cidade paulista, do qual destaca-se o seguinte trecho: ..... Foi mantida a espontaneidade da sua forma de falar, com quebras de verbos ou frases, o que resulta numa sonoridade inesperada e singela.

...“Quando cheguei no Brasil em 1918, fui trabalhar na Fazenda Santa Isabel, hoje Fazenda Concórdia, no Paraná. Moramos ali sete meses. Não fomos nós que escolhemos essa região. Era tudo mandado pela Casa do Imigrante. Viemos em 25.700 pessoas naquele ano. Iam para onde mandavam. No Japão nós éramos lavradores. Tinha sítio, tinha um pouquinho. Imigramos porque naquele tempo o Japão estava ruim. Meu irmão é que orientou para trazer pra cá. Eu era pequenininho, não sabia de nada. Meu irmão casado me trouxe com ele.

Quando chegamos aqui, estranhamos tudo. Não sabia falar nada. Não tinha dinheiro. Na fazenda só podia trabalhar. Só trabalhar. Consulado japonês para ajudar só tinha em São Paulo, mas o funcionário do Consulado chegava na fazenda, conversava só com o fazendeiro e ia embora. Pra dar ordem de trabalho tinha lá um japonês que sabia português. Um fiscal.

Era fazenda de café. Muito mato. Nós nem sabia trabalhar com enxada. Deram enxada grande, cabo novo e comprido. Nossa Senhora, era triste. Quando nós viemos, nós achava que ia derriçar café, mas naquele ano teve uma geada grande, o café ficou todo seco. Então a fazenda plantou mamona e algodão e a gente plantava e colhia. Ganhava um dinheirinho. No Japão a gente pensava que ia derriçar café e ganhar muito dinheiro. Nós trabalhamos seis meses lá na fazenda. Quando a gente ia pedir o pagamento, o dono falava que nós estava devendo. Então, desse jeito, não dá e nós viemos embora para a fazenda do Jacintho Sá. Seis famílias. Saímos fugido de noite. Descobrimos o Jacintho porque o meu irmão foi procurar lugar para plantar e achou um patrício na fazenda do Jacintho e o Jacintho mandou mostrar terras lá na Ponte Preta, para arrendar para nós. O Jacintho era bom. Nós nem precisava pagar antes a terra. Depois da colheita, pagava. Era bom o Jacintho. Tratavam ele de coronel Jacintho. Ele às 5 horas da manhã já estava na Ponte Preta a cavalo. Levantava cedo, cuidava do serviço. Procurava conversar com a gente, mas nós não sabia conversar direito.

“Com pouco, pouco, fui aprendendo a língua. Perguntava para brasileiro, „como chama isso‟, e anotava. Aprendia um pouco de cada vez. Fiz força para aprender brasileiro sozinho. A comida não estranhei. Arroz e feijão achei bom. Nós ficamos todos gordos assim de comer arroz e feijão. Não senti falta de peixe porque em Okinawa eu morava no interior. Era ilha mas só se comia batata-doce.

“Trabalhei trinta anos na lavoura. Onze anos na fazenda do Jacintho como arrendatário. Foi de 1918 a 1929. Em 1930 fui comprar terra lá na Água da Prata. Córrego Fundo e Água da Prata são a mesma coisa. Tinha 25 anos, era solteiro. O meu irmão foi junto. Fomos em quatro famílias comprar sítio juntos. Comprei 16 alqueires e mandei derrubar o mato. Vendi a madeira para a serraria do Adolfo Alonso, parente do Archipo Matachana. Eles foram buscar de caminhão. Tinha peroba, canela, cedro, guaraiúva. Bicho tinha. Ah, naquele tempo tinha até onça. A dois quilômetros dali tinha cateto, o porco-do-mato, tinha onça, tinha macaco. Veado passava em frente de casa. No rio Turvo, vizinho japonês pescava. Eu não gostava de pescar.

Plantei café, milho e arroz. Muito arroz no meio do cafezal. Quando vinha na cidade, fazia compra na Casa Suzuki e no Vicente Amaral. A cidade naquele tempo era a avenida Jacintho Sá. Tinha lá a hospedaria do Trac (Heráclito Sândano), o Hotel Patton. Tinha a Pensão Japonesa na avenida. Em 1930 mais ou menos começou a juntar os japoneses e formar uma associação. Quando nós chegamos não tinha nada. Para cima da linha era cafezal. Onde está o jardim, a Praça Mello Peixoto, era tudo capoeira.

Eu me casei em 1936. Minha mulher era filha de gente de Okinawa e nasceu em Ana Dias, no Vale do Ribeira. Foi morar na Ponte Preta e depois em Palmital, onde casamos. Tive sítio até 1945. Quinze anos. Vendi porque precisava estudar a criançada na cidade. Já tinha seis filhos. No sítio não tinha escola nenhuma, então precisou vender pra estudar criança. Comprei uma casa de madeira na rua Antônio Prado e abri um negócio, armazém. Fiquei até 1966. Lá, no começo, não tinha nada. Era um ponto bom porque era saída para o sítio. O comércio mesmo era na avenida, eu abri o primeiro ali naquela rua. Não tinha nem luz, fui o primeiro que colocou luz. Naquele tempo era assim. Os sitiantes é que arrumavam as estradas com os seus colonos”...

Choso Misato faleceu em 26 de agosto de 1998 em Ourinhos e está sepultado no Cemitério Municipal da Cidade.

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